Saturday, November 18, 2006

O(s) sentido(s) da Vida

Não consigo imaginar a minha vida sem música. Como é que é possível que apenas 12 notas (meios tons incluídos) se combinem de formas tão diversas (às vezes nem por isso), que seria possível ouvir musica ininterruptamente o resto da minha vida, sem repetir nenhuma, e só com aquelas que estão a ser feitas a partir deste momento?

A forma como se conjugam fazem-me vibrar, emocionar, irritar, entristecer, arrepiar, elevar, recordar, sonhar... emoções que tornam sublime uma simples experiência auditiva.

Os olhos que saboreiam, o paladar que sente, o olfacto que vê, a pele que ouve, o ouvido que cheira. Os nossos sentidos são prodigiosos patrocínios da nossa experiência de vida. Mesmo quando um deles falha, os restantes ocupam o seu lugar, tornando mínima a parte que perdemos dessa experiência, e em certo aspecto, focando-a, tornando-a mais apurada e rica.

Que pena não podermos alargar o nosso arco-íris, vendo para alem dos ultra- violetas e infra-vermelhos. Mas é aqui que constamos que eles (os sentidos) fecham o círculo da percepção.

Podemos não ver os infra-vermelhos, mas sem dúvida que os sentimos na pele quando irradiam duma acolhedora lareira. Da mesma forma, é mais fácil sentir um som de baixa frequência (como o que sai de um subwoofer) que ouvi-lo. É assim que os elefantes – animais extraordinários - comunicam a longas distâncias.

No centro desse circulo, aquele que posso considerar o nosso melhor “afrodisíaco” – o cérebro. É lá que convergem todos eles, num passa-a-palavra químico de Sódio e Potássio.

No fundo, somos um complicado formigueiro atómico, mais ou menos perfeito, cuja razão de existir talvez nunca venhamos a saber. Magníficos sensores que fazem parte de um sistema cósmico que a gigantesca diferença de escala nos impede de perceber.

“O perfume” já estreou nas salas de cinema. Dos livros que li, foi o que mais me fez resistir ao sono, e ao mesmo tempo era o meu despertador. Conta a história de Jean-Baptiste Grenouille, que sentia o mundo com o olfacto, mas ele próprio não tinha cheiro, não conseguindo por isso gerar qualquer afectividade nas pessoas. Mesmo em bébé, foi por diversas vezes abandonado.

Delicioso e original – o livro - para mim, que no passado já terminei uma relação tambem porque as feromonas não resultavam.

Faz sentido.

4 comments:

Anonymous said...

Antes de mais nada, acho que é seguro dizer que escapaste ao castigo da Unresigned! :D

Quanto ao tópico, as 12 notas mencionadas são um complemento que o Homem fez à música que a Natureza já nos concedia, som da chuva, som do mar, chilriar dos pássaros, etc. Mas enquanto que esses sons da Natureza causam alterações mais calmas de sentimento (e nem sempre estão acessíveis), os sons do Homem permite uma mudança radical de sensações, uma pessoa pode estar bem com a vida e começar a chorar com uma música, ou vice-versa, uma música pode acalmar uma pessoa ou pô-la com pele de galinha. E se 12 notas parece pouco, o que dizer da música do "Tubarão"? Que apenas com 2 notas foi capaz de lançar "medo" pelas salas de cinema!

É uma pena não podermos alargar o arco-íris de que falas, de exponenciar os nossos sentidos, mas também penso que seja uma questão de tempo, se dizem que o Homem apenas usa 10% do cérebro, quando controlar mais penso que poderemos tirar mais proveito dos sentidos, mas claro que há que conseguir controlá-los porque aquilo que nos dá prazer na vida também nos pode consumir e destruir!

Sunshine said...

Hoje eu escrevi para alguem que "a vida sem amor é como comida sem sal"... mas pensando bem, sem musica também não tem graça nenhuma!
Compreendo-te, pois a musica é a minha primeira companhia de manha e a ultima antes de eu adormecer. Quem se entrega a ela, não sabe viver sem ela!

Obrigada pela sugestão! Quando for possivel vou ver o filme!

Ana Maia said...

bom, eu sem música nem consigo imaginar a vida. A música está sempre comigo.

Quanto ao livro, também foi dos meus favoritos. Li-o há 11 anos e tenciono reler. O filme vai esperar, mas é já um " must see".

Anonymous said...

Gostava só de esclarecer que facilmente consigo imaginar o nosso anfitrião sem música- é só puxar a tomada.